NOTA DE ABERTURA

Meu Caro,

O grande tema desta semana vai para a Meteorologia. Porquê? Porque o IPMA - Instituto Português do Mar e da Atmosfera, arrancou com um novo sistema de Self-briefing Meteorológico que representa um grande passo em frente em relação ao anterior disponibilizado no ano de 2008. Mais um passo em frente no sentido do aumento da Segurança Operacional que nos é tão cara.

Veremos, ainda, uma situação que parece viver-se nos USA em relação à formação de pilotos estrangeiros. Esperemos que o modelo não passe por este cantinho à beira mar plantado.

METEOROLÓGICA – NOVA VERSÃO DO SISTEMA SELFBRIEFING – Parte I

ATT00001

A informação meteorológica aeronáutica é um verdadeiro “must” para a Segurança Operacional. Nenhum piloto consciente inicia uma viagem sem saber qual a situação meteorológica que vai encontrar, desde a descolagem até à aterragem. Sem este conhecimento a viagem pode transformar - se em algo muito parecido com a “roleta russa”.

Ao nível da Aviação Geral, uma das causas principais de acidente é a mudança de condições VMC para IMC. Muitos pilotos não estão preparados nem licenciados para alternarem de uma situação VFR para IFR. Os mais assisados fazem um “180”, não prosseguem e voltam de imediato à situação de VMC. Porém, há aqueles aviadores que pensam que os azares só acontecem aos outros e nunca a eles. Os “sócios deste clube” prosseguem e, muitas vezes, matam-se a si próprios e aos seus passageiros. Uma situação absolutamente lastimável.

Depois, o resultado, segundo o último Relatório Nall disponível, é o seguinte:

ATT00002

Acidentes nos USA relacionados com as condições atmosféricas. A cinzento, número global de acidentes. A laranja, número de acidentes fatais.

Como poderás verificar, a percentagem de acidentes fatais em relação ao número total de acidentes é muito elevado. Cerca de 75%. Uma causa de acidente extremamente perigosa como demonstram os números que, infelizmente, não apresenta tendência para diminuir.

Se agora pretendermos fazer uma análise mais fina podemos analisar o gráfico seguinte:

ATT00003

1ª coluna - VFR into IMC; 2ª coluna – Deficiente técnica de IFR; 3ª coluna – Trovoadas; 4ª coluna – Turbulência; 5ª coluna – Gelo.

Este gráfico mostra-nos, ainda, que a causa mais vulgar para acidentes relacionados com as condições atmosféricas é a passagem de VFR para IFR por parte de pilotos não habilitados.

Em minha opinião estes gráficos são bem explicativos da problemática dos voos em situações meteorológicas adversas que podem ser evitadas se os pilotos explorarem ao máximo a informação disponível.

Meu Caro, nunca te esqueças que há condições meteorológicas que, definitivamente, são de “NO-GO”. Para evitar estas situações não há nada como o aviador se munir de informação meteorológica de confiança e qualidade. Se não o fizeres poderás encontrar aquilo que se vê no radar meteorológico de um avião pilotado por um Amigo, à saída de London Gatwick, no dia 25 de Dezembro de 2012. Grandes prendas do Pai Natal…

Como sabemos, a informação meteorológica aeronáutica rege-se pelo Anexo 3 da ICAO, um documento que impõe regras.

Se consultarmos o citado Anexo veremos que ele começa com a Nota Introdutória Nº1. Esta nota diz, na sua versão original, o seguinte:

“It is recognized that the provisions of this Annex with respect to meteorological information are subject to the understanding that the obligation of a Contracting State is for the supply, under Article 28 of the Convention, of meteorological information and that the responsibility for the use made of such information is that of the user.”

Como Estado contratante, a República Portuguesa delegou as funções de fornecimento de Informação Meteorológica Aeronáutica no actual “Instituto Português do Mar e da Atmosfera”, em cuja génese esteve, entre outros, o Instituto de Meteorologia. No sentido de levar este tipo de informação ao maior número de Aviadores, o IM criou, há já alguns anos – 2008 - um “Sistema de Selfbriefing” através do qual qualquer piloto poderia construir, a partir de um qualquer computador ligado à Net, o seu dossier de informação meteorológica para suportar as suas viagens.

Esta semana o IPMA lançou uma versão mais moderna e actualizada do “Sistema de Selfbriefing”, uma versão que, desde já, está à disposição dos utilizadores autorizados. Para lhe acederes poderás aceder ao sítio do IPMA, escolhendo, depois, no menu da informação aeronáutica a opção “Self-briefing”.

Nota que, para poderes aceder a este sistema tens que estar registado como utilizador autorizado. Para tal terás de receber do IPMA um password que te irá permitir usufruir de todas as funcionalidades do “Self-briefing”. Apesar da informação disponível neste sítio não ser confidencial torna-se necessário proteger o Sistema das muitas”carraças” que navegam permanentemente na Net, sem qualquer interesse na Meteorologia Aeronáutica. Contudo, porque os meios não são infinitos, as “visitas” indesejadas acabam por prejudicar todos aqueles que, realmente, precisam da informação. Daí a necessidade dos utilizadores se registarem. Uma precaução que já existia na primeira versão do Self-briefing.

Os utilizadores vão notar algumas diferenças, mas a troca de interface do antigo para o novo sistema é auto-explicativa.

ATT00004

Nova página de entrada do Sistema Self-briefing de informação aeronáutica do IPMA.

Os utilizadores também repararão na existência de algumas novas opções acessíveis a partir do menu superior. Os novos produtos WAFC gráficos para CAT (turbulência de céu limpo), TIC (turbulência na nuvem), Gelo e Cumulonimbus estarão disponíveis consultando os menus das Cartas.

O IPMA solicita que utilizadores relatem problemas ou enviem comentários. Para tal, deverão utilizar a opção "Provide feedback" no menu "info". A colaboração de todos é fundamental para a obtenção de bons resultados desta utilíssima ferramenta.

A exemplo do que fiz a partir da crónica Nº 126 de 11 de Abril de 2008 irei, nas próximas crónicas, fazer uma análise de detalhe das diversas funcionalidades desta nova versão do “Self-briefing” para poder familiarizar todos os Meus Caros com o produto.

Não gostaria de terminar o tema sem antes fazer uma sugestão a todos os instrutores da disciplina de “Meteorologia” das diversas escolas. Esta minha sugestão vai no sentido de aqueles aproveitarem as suas aulas para mentalizar os alunos, futuros pilotos, a utilizarem sistematicamente este Sistema de Self-briefing Meteorológico como uma das partes importantes da Segurança Operacional. Afinal, todas as viagens se preparam previamente em terra, antes de descolar!

Para acesso directo ao “Sistema de Selfbriefing Meteorológico” basta seguir a hiperligação. Q

UMA SITUAÇÃO PERIGOSA NA INSTRUÇÃO DE NOVOS PILOTOS

Alguns pilotos ou alunos pilotos portugueses vão fazer a sua formação, ou acabar esta, para os USA. As condições que lá se oferecem são muito vantajosas em certos aspectos. Numa notícia que recebi esta semana pude perceber que muitos instrutores de voo americanos estão altamente preocupados com a situação da imperiosidade de treinos ultra rápidos para pilotos estrangeiros.

Muitas companhias aéreas estrangeiras contratam, com escolas de pilotagem americanas, a formação dos seus pilotos. Note-se que a FAA outorgou, só no ano passado, 4.820 licenças de Piloto Comercial e Piloto de Linha Aérea a pilotos não americanos. Muito destes pilotos apresentam-se com uma formação escolar muito baixa e que só durante a sua estadia nos USA tomaram contacto com o voo pela primeira vez. Isto leva a que muitos instrutores de escolas de pilotagem americanas se sintam pressionados em passar alunos que de modo algum têm a preparação, tida como suficiente, para os níveis exigidos às licenças que pretendem. Dizem estes Instrutores que, aos alunos, lhes falta treino suficiente, uma falta que deve ser ultrapassada com mais instrução. Passar jovens cadetes a co-pilotos de uma qualquer companhia é uma desonestidade de instrução.

Na realidade, uma formação feita à pressa é, em meu entendimento, sempre defeituosa e muito perigosa. Por parte das companhias aéreas que recorrem a estas “acelerações” está a cometer-se um erro muito grave. A escolas de pilotagem que acedem a facilitar as referidas “acelerações”, essas são coniventes numa situação dolosa.

Os passageiros que amanhã voarem com estes co-pilotos feitos à força têm todo o direito de exigirem que sejam transportados com toda a segurança. Mas sê-lo-ão? Duvido. Esta minha dúvida lança-me a suspeita que a Segurança Operacional está a ser vítima da ganância dos operadores.

Para conheceres melhor a situação, aconselho-te a veres uma reportagem da NBC onde se debate o tema. Para acederes à reportagem basta seguires a hiperligação.Q

Deixa-me terminar lembrando-te que Aviação sem Segurança Operacional não é Aviação. Nunca te esqueças que esta, por sua vez, depende do teu airmanship e da tua postura como Aviador.QQ

Como sempre, um abração do

Fernando

Fernando Teixeira, por opção intelectual, escreve segundo a ortografia do Acordo Ortográfico de 1945.